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Professor Sacha Calmon concede entrevista ao O Tempo sobre seu livro


O jornal O Tempo publica em sua edição de hoje reportagem sobre o novo livro do professor Sacha Calmon, intitulado “A história da mitologia judaico-cristã”.
Sacha
Religião precede direito
Professor titular da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, presidente da Associação Brasileira de Direito Financeiro, juiz federal aposentado e coordenador do curso de especialização em direito tributário da Faculdade Milton Campos, Sacha Calmon é autor de 11 livros sobre direito constitucional e tributário. Nesta entrevista, ele fala sobre seu novo livro, “A História da Mitologia Judaico-Cristã”.
Ana Elizabeth Diniz
Especial para O TEMPO
O que levou um advogado tributarista a enveredar pela seara das religiões e da mitologia?Leituras de história, sociologia das religiões, antropologia, política e história do direito, através dos tempos. Sou jurista, apenas me especializei em direito tributário exclusivamente, embora seja doutor em direito público. A cultura de uma pessoa transcende a sua profissão. O Ocidente inteiro ainda está apegado às concepções frágeis das religiões reveladas. Como jurista, parto da tese de que a religião foi a primeira forma de direito e da moral, ainda nos primórdios do neolítico.
Qual a mensagem do livro? Que o livre pensar se opõe aos dogmas religiosos que dispensam as reflexões críticas e filosóficas. Afora isso, quis contar uma história do judaísmo e do cristianismo, com auxílio de mais de 30 autores conceituados – alemães, ingleses, norte-americanos e judeus não religiosos -, muito diferente da que conhecemos na mitologia. Noventa e nove por cento das pessoas citam trechos da Bíblia como autômatos, sem as referências históricas contextualizadas.
Qual é a leitura sobre o início dos tempos expressa pelos mitos cristãos e judaicos? Os dois grandes mitos (dois terços da Bíblia hebraica ou “Velho Testamento”) são o êxodo de 660 mil pessoas durante 40 anos (sem deixar vestígios arqueológicos e registros de historiadores gregos, hitititas, egípcios, mesopotâmicos e assírios) e a campanha de Josué. A destruição da região costeira de Canaã, sabe-se hoje, foi obra dos “povos do mar”, espécie de vikings gregos do mar Egeu e da Anatólia. A profetiza Hulda e Hélcias grão-sacerdote de Josias transformaram a expulsão dos hicsos do Egito (reis pastores fixados no delta leste do Nilo) e as “razzias” dos povos do mar para criar as lendas fundantes do estado religioso fundamentalista de Judá.
Onde entra a Tora? Não se pode ler a Torá descontextualizada das seguidas derrotas do povo israelita. Os mitos judaicos no Gênesis são de segunda mão, seguem, com modificações, os mitos caldáicos e babilônicos. São copiados. No Ocidente, pouca gente sabe disso. É muito estranho que, depois de acachapar o Egito e destroçar Canaã, Javé tenha perdido com o seu povo todas as guerras, vencidas por babilônicos, persas, gregos, romanos, árabes, turcos, chegando até 1948 sem estado, pátria, templo e capital. Aos mitos segue-se a realidade. Do confronto surge a verdade. Mais à frente, as canções do servo dos redatores de Isaías 1 e 2 e mais o livro de Daniel, ambientado na Babilônia, mas escrito em 80 a.C, são os links que engatam o cristianismo no judaísmo. Se destruídos esses links, veremos que Jesus não tem nada a ver com Javé. É superior mil vezes e completamente diferente daquele deus tribal e sanguinário.
Qual a diferença fundamental entre Javé e Jesus? Javé não merece reverências, apenas medo. Jesus não merece todos os encômios. É pura espiritualidade. Não exige sacrifícios, não julga, mas ama, compreende e perdoa.
Segundo essas mesmas referências, como foi o processo de evolução do homem? Hoje se sabe que o universo existe há cerca de 14 bilhões de anos e a Terra, outros tantos bilhões de anos. Como admitir que Javé criou o universo há 5.765 anos apenas (a genealogia de Adão até hoje)? Sabe-se também que pelos menos há 100 mil anos há registros de atividades humanas inteligentes no planeta. Não dá para crer em historinhas de Adão e Eva, criados adultos e sexuados e com órgãos de reprodução. É estranhíssimo.
Os mitos validam a teoria do criacionismo ou o darwinismo?Os mitos validam única e exclusivamente o criacionismo infantil dos povos semitas. Como os discípulos de Jesus, exceto Paulo e Marcião ligaram Jesus ao Velho Testamento. O legado espiritual de Jesus ficou contaminado pelo judaismo religioso (pueril).
O que dizia o culto a Deméter? Deméter é apenas a Terra, a Terra-mãe segundo a mitologia grega. É uma figura elegante de retórica, tão somente. No mais, confirma a evolução a partir da sopa primordial de moléculas. Enfim, de onde viemos, qual a nossa missão e para onde vamos? A religião tem mais a ver com o direito (técnica de regramento de comportamentos humanos e sociais) do que com a filosofia. Está interessada em fazer com que as pessoas vivam retamente, sob pena de, não o fazendo, irem a julgamento (culpado ou inocente), seguindo-se o céu (paraíso) ou o inferno (penitenciária administrada por satã) tão eterno quanto Deus. A própria religião já nos diz para onde vamos por toda a eternidade: para o céu ou o inferno. Diante disso, “o de onde viemos” perde todo o significado.
Qual é então nosso destino? Se você admitir que viemos de Deus, concluirá que somente podemos ir para Deus, jamais para satã, o administrador do presídio jurídico-religioso. A evolução é uma flecha lançada no infinito. Olhando bem as coisas, a Terra no começo era uma bola de fogo. Se foi possível passar do inanimado para o animado, da molécula para a célula pulsante que evoluiu sem cessar, do menos complexo para o mais complexo, até nós, é porque algo grandioso escapa à nossa razão (não porém à meditação como ocorre no zen). O mal do Ocidente e de suas religiões é serem racionalistas. Os mitos são fórmulas simbólicas da razão dedutiva (causa e efeito). São concepções muito pobres de Deus, feito à nossa imagem e semelhança (antropomorfismo).
O que: “A História da Mitologia Judaico-Cristã”, Sacha Calmon, editora Noeses, 703 páginas, R$ 89,10
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Publicado em: 18/05/2010

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